Ótimos títulos

domingo, 19 de dezembro de 2010

A gana de um gigante


Esta matéria é para divulgar o perfil de um irmão em Cristo, o Jhonathan, que tem crescido comigo na Comunidade Betsaida, ele é um exemplo para todos os jovens que querem crescer e vencer na vida! Parabéns Jhonathan!!!

Rafael Carneiro da Cunha

“Hoje, muitos me olham como se eu estivesse montado na grana porque tenho um carro e compro uma roupa mais cara. Isso é fruto do meu trabalho, do meu esforço. Minha mãe sempre disse que a única pessoa que impede você de crescer é você mesmo”.

Com um jeito alegre de levar a vida, Jhonatan Soares Alves, de 28 anos, chega para a entrevista dizendo logo que, quando recebeu o meu convite ficou na dúvida se realmente era o perfil ideal e se de fato pertencia a essa “nova classe média”. Essa dúvida persistiu até o final do bate papo quando ele comentou: “olhando por esse lado pertenço sim”. Mas, muito além de uma simples rotulação, Jhonatan pode ser considerado um vencedor e que sempre soube aproveitar as oportunidades que lhe apareceram.

Morador de uma COHAB, o rapaz de 1,97m de altura conta que já sofreu muito preconceito por ser negro e também por não ter muitas condições financeiras. Ele era discriminado principalmente na época em que praticava bicicross. “O que mais acontecia era um desprezo por não ter o dinheiro que os outros tinham. Uma vez fui discriminado pelo pai de um dos meninos que corriam, que disse que eu não tinha o mesmo nível social para acompanhar aquele grupo”.

Nascido em Osasco (São Paulo), Jhonatan teve uma infância muito proveitosa, apesar de começar a trabalhar com 12 anos de idade. Vendia o jornal que recolhia na vizinhança para os feirantes. “Assim, eu levantava um dinheirinho para comprar alguma coisa que meus pais não podiam me dar, fazer passeios diferentes, conhecer novos lugares. Meus pais faziam o possível para que eu conhecesse esses novos lugares, mas nem sempre era viável. A quantidade de transportes que precisava para chegar no local muitas vezes era um empecilho. Um dos lugares que mais gostava de ir com meu pai era a Estação Ciência porque lá era um mundo muito novo para mim e que me instigava a sempre buscar coisas novas”.

A relação com seus pais sempre foi transparente e com bastante diálogo. Sua mãe trabalhava como auxiliar de serviços gerais e seu pai como motorista particular e da Secretaria de Tecnologia. Dinheiro nunca faltou para o sustento da família, mas também não sobrava para suprir desejos de consumo, o que é comum a todas as crianças. No caso de Jhonatan era o videogame que o fazia delirar. “E olha que eu tive mais regalias que meus irmãos! Uma das coisas que me marcou muito foi na época que eu corria de bicicross e eu queria uma bicicleta melhor. Eles sentaram comigo e falaram que não tinham condições de comprar um kit para a melhoria da bicicleta no meu aniversário, mas se poupássemos até o final do ano conseguiriam comprar”.

O trabalho sempre foi para o jovem rapaz uma forma de ter o seu próprio dinheiro e suprir os seus desejos de consumo. Cheio de ambições, Jhonatan fez de tudo um pouco. Depois de vender jornal para embrulhar as frutas na barraca dos feirantes, lavou peças automotivas, fez “bicos” pintando os portões de prédios, entre outros. Por volta dos 14 anos de idade ele já tinha em mente que queria se profissionalizar na área de informática, mas sabia que não seria fácil.

Nessa época ele se deparou com uma escolha difícil. Jhonatan fora aprovado na seleção para um curso de metalurgia no SENAI e ao mesmo tempo para uma vaga de office boy em uma empresa de Alphaville. “Optei por trabalhar porque ganharia um salário e assim eu teria como juntar um dinheiro para depois investir em estudos na área de informática. No curso do SENAI isso não seria possível”. Com o passar do tempo, mudou de função algumas vezes dentro da empresa, porém o seu fascínio pela informática fazia com que também frequentasse o Centro de Processamento de Dados. Lá, recebia um incentivo dos colegas a se aprofundar na área.


Foi em uma festa de funcionários que percebeu que sua vida poderia mudar. Surgira uma oportunidade de ingressar na área que ele tanto sonhava. Com o dinheiro que recebeu ao sair do emprego comprou à vista o seu primeiro computador e foi trabalhar na Globoweb (empresa de hospedagem de sites), dando suporte técnico e posteriormente na manutenção de sites. “Ali aprendi muito sobre hospedagem e tive a oportunidade de descobrir e visualizar melhor o que era o mundo da internet”. Depois de um ano fez um curso de animação e passou a supervisionar a área de suporte.

Com o fim do ensino médio Jhonatan foi cursar sistemas de informação na Faculdade Flamingo. Essa nova fase de sua vida lhe “abriu muitas portas” como estágios, novos trabalhos e uma pós-graduação. “Para muitos pode parecer estranho, mas é bem comum trocar constantemente de empregos na minha área. As minhas mudanças tinham sempre o objetivo de novos desafios”. Um dos momentos que ele julga ser um dos mais importantes na sua trajetória profissional foi quando começou a lecionar uma disciplina ligada à informática em um colégio Padre Achieta, em Osasco. Até hoje ele exerce essa função, que teve como um dos seus pontos mais altos o final do ano passado, quando foi chamado para ser paraninfo de uma turma que ele acompanha desde o 1º colegial. Além disso, está atualmente em uma empresa como analista de tecnologia.

A vontade de conhecer novos lugares ainda está presente entre as suas características. No final de 2009 fez a sua primeira viagem para o nordeste do Brasil e conheceu João Pessoa (PB). Agora, planeja para este ano viajar para os Estados Unidos ou Inglaterra para estudar inglês e fazer um curso em sua área. “Não pude ir antes porque o dinheiro que estava juntando usei na compra do meu carro”.

Obstinado e sempre brincalhão, Jhonatan tem como um dos seus hobbies a música. O fã incondicional do cantor Ed Mota também toca teclado e canta em cultos e casamentos. A música é algo que sempre esteve presente em sua vida. Quando se fala em comida ele logo se mostra um grande apreciador da culinária japonesa. Sem falar no seu outro hobbie, o cinema, que frequenta assiduamente.

Pergunto para Jhonatan como ele se define. Ele não pensa duas vezes e responde que é uma pessoa realizada. “Agradeço muito a todos os nãos que meus pais me disseram porque isso fez com que me tornasse o homem íntegro que sou. Aprendi a ter caráter e não ter vergonha de onde eu vim”.

*Este perfil será publicado na primeira edição de 2011 do Contraponto, jornal laboratorial da PUC-SP.

Fonte: http://rafaelcarneirodacunha.files.wordpress.com/2010/12/img_80282.jpg

Nenhum comentário:

Postar um comentário