Ótimos títulos

domingo, 17 de novembro de 2013

Sofrimento e glória


Rev. Hernandes Dias Lopes

A vida cristã é temperada com sofrimento, mas caminha para a glória. Cruzamos vales profundos, mas também subimos montes alcantilados. Vertemos lágrimas amargas, mas também experimentamos alegria indizível. Em Romanos 8.18-27 Paulo fala sobre o problema do sofrimento e da dor. Ele contrasta o sofrimento presente com a glória futura. Paulo menciona três gemidos. Fala do gemido das duas criações: a antiga (a natureza) e a nova (a igreja). Elas sofrem juntas e juntas serão glorificadas no final. Vejamos esses três gemidos.

Em primeiro lugar, os gemidos da criação (Rm 8.18-22). Quando Deus terminou a obra da criação, viu que tudo era muito bom. Mas hoje a criação está gemendo. Há sofrimento e morte. Há dor e gemidos. Há sofrimento (v. 18), vaidade (v. 20), escravidão (v. 21), corrupção (v. 21) e angústia (v. 22). Mas esse gemido da criação não é o gemido de alguém que está morrendo, mas é como o gemido de uma mulher que sofre as dores de parto. Depois do gemido, vem a alegria. A criação geme aguardando a revelação dos filhos de Deus, a gloriosa segunda vinda de Cristo. Nós vamos participar da glória de Cristo e a natureza vai participar da nossa glória. Aqui pisamos uma estrada juncada de espinhos. Aqui, as pedras ferem nossos pés. Aqui a natureza sujeita ao pecado conspira contra nós. Aqui a dor fuzila nosso corpo e a angústia oprime a nossa alma. Aqui as lágrimas inundam nossos olhos e a tristeza entrincheira a nossa vida. Porém, em breve, essa mesma criação que geme, será restaurada e participará da glória dos filhos de Deus, quando Cristo vier em sua glória.

Em segundo lugar, os gemidos da igreja (Rm 8.23-25). Nós gememos por causa da fraqueza do nosso corpo e por causa da presença do pecado em nosso ser. Nós gememos porque embora já fomos libertos da condenação do pecado (na justificação), e estamos sendo libertos do poder do pecado (na santificação) ainda não fomos libertos da presença do pecado (na glorificação). Nós gememos porque já experimentamos as primícias do Espírito e já sentimos o gosto da glória por vir. O Espírito em nós é mais do que uma garantia da glória, é antegozo dela. Nós gememos porque antevemos o gozo do céu e desejamos ardentemente ser revestidos de um corpo de glória e chegar logo em nossa Pátria, em nosso lar, o céu. Nós gememos, porque o melhor está ainda por vir. Nós gememos aguardando esse dia. Os gemidos da igreja também não são gemidos de desespero ou pavor, mas gemidos de expectativa. Aguardamos na ponta dos pés esse glorioso dia, quando Jesus virá com grande poder e glória para estarmos para sempre com ele.

Em terceiro lugar, os gemidos do Espírito Santo (Rm 8.26,27). Não apenas a criação e a igreja estão gemendo, mas também o Espírito Santo está gemendo. Isso significa que a despeito das nossas fraquezas, o Espírito Santo não nos escorraça. Ao contrário, nos assiste. O Espírito Santo é o Deus que habita em nós e intercede por nós, em nós, ao Deus que está sobre nós. E intercede de três formas: Primeiro, intensamente (v. 26). Ele intercede por nós "sobremaneira". O Espírito Santo emprega todos os seus atributos nessa oração intercessória. Segundo, agonicamente (v. 26), ou seja, com gemidos inexprimíveis. Mesmo sendo Deus e conhecendo todas as línguas dos homens e dos anjos, não encontra sequer uma língua para articular a sua intensa e agônica oração, então geme. Terceiro, eficazmente (v. 27), ou seja, ele intercede segundo a vontade de Deus. Toda a intercessão do Espírito Santo em nós, por nós, ao Deus que está sobre nós, está alinhada com a vontade de Deus. Ele não desperdiça sequer uma intercessão em nosso favor. Por isso, temos a garantia de que mesmo cruzando aqui os vales mais escuros, estamos a caminho do céu, pois aqueles que foram salvos pela graça, desfrutarão da glória eterna!

Fonte: Boletim nº 187 (recebido por e-mail)

sábado, 16 de novembro de 2013

Salvação, dom inefável de Deus


Rev. Hernandes Dias Lopes

A salvação não é uma conquista humana, mas uma dádiva de Deus. Não a alcançamos por mérito, mas recebemo-la por graça. A salvação não é um troféu que erguemos como fruto do nosso labor nem uma medalha de honra ao mérito, mas um presente imerecido. Concernente à salvação, como dom inefável de Deus, destacamos três verdades sublimes:

Em primeiro, a graça, o fundamento da salvação. "Porque pela graça sois salvos…" (Ef 2.8aa). A graça de Deus é seu amor imerecido, endereçado a pecadores perdidos e arruinados. Deus amou-nos quando éramos fracos, ímpios, pecadores e inimigos. Amou-nos não por causa dos nossos méritos, mas apesar dos nossos deméritos. Amou-nos não por causa das nossas virtudes, mas apesar das nossas mazelas. Amou-nos não porque éramos seus amigos, mas apesar de ser seus inimigos. Amou-nos e deu-nos seu Filho Unigênito. Amou-nos e deu-nos tudo. Deu-se a si mesmo. Deu seu Filho único. Deu-o não para ser servido, mas para servir. Não para ser aplaudido entre os homens, mas morrer pelos pecadores. Esse amor incomparável, incompreensível e indescritível a pecadores indignos é a expressão mais eloquente de sua graça. Assim, não somos salvos pela obra que realizamos para Deus, mas pela obra que Deus realizou por nós, na cruz do Calvário. A cruz de Cristo é o palco onde refulge com todo o esplendor a graça de Deus. Aqui está a causa meritória da nossa redenção, o fundamento da nossa salvação. 

Em segundo lugar, a fé, o instrumento da nossa salvação. "… mediante a fé, e isto não vem de vós; é dom de Deus. Não de obras, para que ninguém se glorie" (Ef 2.8b,9). Não somos salvos por causa da fé, mas mediante a fé. A fé não é a causa meritória, mas a causa instrumental da nossa salvação. Apropriamos da salvação pela graça, mediante a fé. A fé é a mão estendida de um mendigo para receber o presente de um rei. Deus nos oferece a salvação gratuitamente e apropriamo-nos dela pela fé. A própria fé não vem do homem, vem de Deus; não é resultado de esforço ou mérito humano, mas presente de Deus. A fé salvadora não é apenas um assentimento intelectual nem uma confiança passageira apenas para as questões desta vida. A fé salvadora é plantada em nosso coração pelo Espírito de Deus e então, transferimos nossa confiança daquilo que fazemos para o que Cristo fez por nós na cruz. A fé não apenas toma posse da salvação, mas, também, descansa na suficiente obra de Cristo. Somos justificados pela fé, vivemos pela fé, andamos de fé em fé e vencemos o mundo pela fé.

Em terceiro lugar, as boas obras, o propósito da nossa salvação. "Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus, para as boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas" (Ef 2.10). Não somos salvos pelas boas obras, mas para as boas obras. As boas obras não são a causa da salvação, mas sua consequência. Não fazemos boas obras com o propósito de sermos salvos; fazemo-las porque já fomos salvos pela graça, mediante a fé. É importante destacar que se as boas obras não encontram lugar como causa meritória ou instrumental da salvação, elas precisam ser vistas como a evidência da salvação. A fé e as boas obras não estão em conflito. A fé sem as obras é morta; as obras sem a fé não são boas. A fé produz obras e as obras provam a fé. A salvação é só pela fé independente das obras, mas a fé salvadora nunca vem só. Vem acompanhada das obras que glorificam a Deus e abençoam os homens. Essas obras foram preparadas de antemão para que andássemos nelas. Tudo provém de Deus, pois é ele quem opera em nós, tanto o querer como o realizar.

A salvação é um dom inefável de Deus. Foi planejada por Deus Pai, executada pelo Deus Filho e aplicada pelo Deus Espírito Santo. Foi planejada na eternidade, é executada na história e será consumada na segunda vinda de Cristo. Fomos salvos pela graça, mediante a fé e para as boas obras!


Fonte: Boletim 191 (recebido por e-mail)

domingo, 3 de novembro de 2013

A abundante graça de Deus


Rev. Hernandes Dias Lopes

Desde o Pentecostes, a igreja de Jerusalém, cheia do Espírito Santo, crescia em números e em graça. Permanecia firme na palavra e arraigada na oração. Tinha intimidade com Deus e simpatia aos olhos do povo. Adorava a Deus com entusiasmo e em cada alma havia temor. Nessa igreja havia uma liderança cheia do Espírito e um povo comprometido com a santidade. No capítulo quatro de Atos, somos informados que em todos os crentes havia abundante graça (At 4.33). Cinco verdades nos chamam a atenção na passagem em apreço.

Em primeiro lugar, abundante graça apesar de atroz perseguição (At 4.3). Os líderes da igreja estavam sendo encerrados em prisão e açoitados não porque fossem delinquentes e perturbadores da ordem social, mas porque pregavam o poderoso evangelho de Cristo. Uma igreja fiel sempre despertará a fúria do mundo. Uma igreja santa sempre incomodará uma sociedade rendida ao pecado. Porém, apesar de viver debaixo de opressão, a igreja tinha abundante graça, exuberante alegria e poderoso testemunho.

Em segundo lugar, abundante graça manifestada num ousado testemunho (4.8). A igreja dava audacioso testemunho do evangelho mesmo debaixo das ameaças mais ruidosas. Longe da igreja recuar e calar sua voz diante dos açoites e prisões, tornou-se mais intrépida. O apóstolo Pedro, cheio do Espírito Santo, deixou claro que a cura do paralítico (descrita no capítulo 3 de Atos) não era um prodígio realizado por seu próprio poder. Era uma obra soberana de Jesus, o mesmo que vencera a morte, ressuscitando dentre os mortos. Pedro não se concentra no milagre da cura, mas anuncia a Jesus como o único que pode salvar o pecador. O milagre não é o evangelho, mas abre portas para o evangelho. Pedro não hesitou em proclamar no quartel general do Judaísmo que o Messias esperado era o Jesus que havia sido crucificado em Jerusalém e levantado da morte. Não há nenhum hiato entre o Cristo divino e o Jesus histórico. Ele é o Salvador do mundo.

Em terceiro lugar, abundante graça demonstrada em fervorosa oração (At 4.24). Enquanto a liderança da igreja é ameaçada pelas autoridades no front da batalha, a igreja fica na retaguarda da oração. Longe desses crentes perderem a coragem e o fervor espiritual diante da perseguição, entregam-se à oração com mais fervor, sabendo que Deus é soberano e que até mesmo as ações mais perversas dos ímpios estão rigorosamente sob o controle de Deus. A igreja não pede cessação da perseguição, mas poder para testemunhar no meio da perseguição. A igreja não pede ausência de luta, mas oportunidade para pregar. Enquanto os crentes oravam, o Espírito Santo desceu sobre eles. A casa onde estavam reunidos tremeu e todos, com intrepidez, deram testemunho de Cristo. Não há poder sem oração e não há eficácia na pregação sem oração. A igreja precisa não dos aplausos do mundo, mas do poder do Espírito Santo. Precisa não do reconhecimento da terra, mas da intrepidez do céu.

Em quarto lugar, abundante graça revelada na plenitude do Espírito Santo (At 4.31). Quando a igreja orou, os céus se abriram, o Espírito Santo desceu e todos ficaram cheios do Espírito Santo. Antes desse revestimento de poder a igreja estava trancada por medo; agora, é trancada por falta de medo. Antes, eles temiam os açoites das autoridades, agora são as autoridades que temem a igreja. Uma igreja cheia do Espírito é irresistível. Ela não teme ninguém a não ser a Deus. Ela não foge de nada exceto do pecado. Um crente cheio do Espírito Santo pode até ser preso e algemado, mas se torna um embaixador em cadeias. Os homens podem prender a nós, mas jamais a palavra de Deus.

Em quinto lugar, abundante graça comprovada pela visível generosidade (At 4.32). Uma igreja cheia de graça é apegada às pessoas e desapegada das coisas. Não retém os bens apenas para si; distribui-os com generosidade. Não acumula com ganância, mas distribui com generosidade. Ama não apenas de palavras, mas de fato e de verdade. Suas obras são o avalista de seus palavras. Prega não apenas aos ouvidos, mas também aos olhos!

Fonte: Boletim nº 190 (recebido por e-mail)

domingo, 27 de outubro de 2013

De volta ao evangelho


Rev. Hernandes Dias Lopes

O evangelho é a melhor notícia que já ecoou nos ouvidos da história. É a boa nova da salvação vinda de Deus a pecadores perdidos. É o transbordamento do amor divino aos filhos da ira. É a graça sem par a pessoas indignas. É a misericórdia estendida a indivíduos arruinados. O evangelho é o novo e vivo caminho que Deus abriu desde o céu para o céu. Esse não é o caminho das obras, mas da graça. Não é o caminho do mérito, mas da oferta gratuita. Não é o caminho da religião, mas da cruz. A salvação é uma obra monergística de Deus, trazendo libertação aos cativos, redenção aos escravos e vida aos mortos.

Com respeito ao evangelho, precisamos estar alertas sobre alguns perigos. Tanto no passado como no presente, ataques frontais foram e ainda são feitos para esvaziar o evangelho, distorcer o evangelho e substituir o evangelho por outro evangelho, que em essência, não tem nada de evangelho. Quais são esses perigos?

Em primeiro lugar, o perigo de substituir o evangelho da graça pelo evangelho das obras. O mundo odeia o evangelho, porque este é um golpe fatal em seu orgulho. O evangelho anula completamente qualquer possibilidade do homem vangloriar-se. Reduz o homem à sua condição de completo desamparo. Mostra sua ruína absoluta, sua depravação total, sua escravidão ao diabo, ao mundo e à carne, sua corrupção moral e sua morte espiritual. A tentativa do homem chegar-se a Deus pelo caminho das obras é tão impossível como tentar construir uma torre até aos céus. O apóstolo Paulo diz aos judaizantes que estavam perturbando a igreja e pervertendo o evangelho, induzindo as pessoas a praticarem as obras da lei para serem salvas, que isso é um outro evangelho, um evangelho falso, que desemboca na ruína e na perdição.

Em segundo lugar, o perigo de substituir o evangelho da cruz pelo evangelho da prosperidade. Prolifera em nossos dias os pregadores da conveniência, os embaixadores do lucro em nome da fé. Multiplicam-se neste canteiro fértil da ganância, homens inescrupulosos que mercadejam a palavra de Deus, fazendo da igreja uma empresa, do púlpito um balcão, do evangelho um produto híbrido, do templo uma praça de negócios e dos crentes consumidores. O vetor desses obreiros da iniquidade é o lucro. Pregam para agradar. Pregam para atrair as multidões com uma oferta de riqueza na terra e não de um tesouro no céu. Torcem as Escrituras, manipulam os ouvintes, enganam os incautos, para se locupletarem. Sonegam ao povo a mensagem da cruz, a oferta da graça, a mensagem da reconciliação por meio do sangue de Cristo. Embora esses pregadores consigam popularidade estão desprovidos da verdade. Embora reúnam multidões para ouvi-los, não oferecem aos famintos o Pão do céu. Embora, se vangloriem de suas robustas riquezas acumuladas na terra, são miseravelmente pobres na avaliação do céu.

Em terceiro lugar, o perigo de se pregar o evangelho sem o poder do Espírito Santo. Se a pregação do falso evangelho das obras e da prosperidade é um negação do genuíno evangelho, a pregação do verdadeiro evangelho sem o poder do Espírito é uma conspiração contra o evangelho. O evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo o que crê. Nele se manifesta a justiça de Deus. Não podemos pregá-lo sem a virtude do Espírito Santo. O pregador precisa ser um vaso limpo antes de ser um canal de bênção. Precisa viver com Deus antes de falar em nome de Deus. O pregador precisa ser cheio do Espírito antes de ser usado pelo Espírito. Se a pregação do evangelho é lógica em fogo, a mensagem do evangelho precisa queimar no coração do pregador antes de inflamar os ouvintes. Precisamos desesperadamente de um reavivamento nos púlpitos. Precisamos voltar ao evangelho!

Fonte: Boletim nº 189 (recebido por e-mail)

sábado, 5 de outubro de 2013

A supremacia das Escrituras e a primazia da pregação


Rev. Hernandes Dias Lopes

O apóstolo Paulo, o maior bandeirante do Cristianismo, fechando as cortinas da vida, na antessala de seu martírio, ordenou a Timóteo: "Prega a palavra…" (2Tm 4.2). Uma coisa é pregar a palavra, outra coisa é pregar sobre a palavra. A palavra é o conteúdo da pregação e a autoridade do pregador. O pregador não é a fonte da mensagem, mas seu instrumento. O pregador não produz a mensagem, transmite-a. O pregador é um arauto; a mensagem não é sua, mas daquele que o enviou. Seu papel não é tornar a mensagem mais palatável aos ouvidos das pessoas, mas transmiti-la com fidelidade. Duas verdades devem ser destacadas no texto de 2Timóteo 4.2.

Em primeiro lugar, a supremacia das Escrituras. Paulo escreve: "Prega a palavra". Paulo não ordena a Timóteo a pregar suas próprias ideias nem o autoriza a pregar a mensagem mais popular da época. Timóteo deveria pregar a palavra. Não temos outra mensagem a transmitir a não ser a palavra de Deus. O pregador não pode criar a mensagem; é sua incumbência transmiti-la. Não tem o direito de sonegar parte da mensagem que recebe; deve comunicá-la com inteireza. Hoje, muitos pregadores pregam outro evangelho. Um evangelho que não tem boas novas de salvação. Um evangelho fabricado no laboratório do enganoso coração humano. Um evangelho que atrai multidões, mas não tem poder para transformá-las. Um evangelho humanista, centrado no homem, e não o evangelho da graça, centrado em Cristo e na sua obra redentora. Floresce hoje o espúrio evangelho da prosperidade, prometendo aos homens as riquezas e glórias deste mundo, mas sonegando a eles a palavra da salvação eterna. Recrudesce um evangelho místico, sincrético, com fortes laivos de paganismo, desviando os incautos da cruz de Cristo, para sua própria ruína e destruição. Ah, é tempo da igreja voltar-se para o lema da Reforma: "Sola Scriptura"! É preciso interromper essa marcha inglória de uma pregação cheia do homem e vazia de Deus; uma pregação que promete curas, milagres e prosperidade, mas não oferece aos perdidos a vida eterna em Cristo Jesus. É preciso colocar em relevo a mensagem da graça e erguer o estandarte da cruz onde os pregadores infiéis drapejam a bandeira de perigosas heresias. Precisamos de uma volta ao Cristianismo apostólico, onde a igreja reconheça a supremacia das Escrituras e coloque a palavra de Deus no centro do culto, da pregação e da vida.

Em segundo lugar, a primazia da pregação. Paulo escreve: "Prega a palavra". Uma vez que temos a palavra de Deus, inspirada pelo Espírito de Deus, inerrante, infalível e suficiente não podemos guardá-la apenas para nós. A palavra que nos foi confiada precisa ser transmitida. A mensagem que recebemos deve ser proclamada com fidelidade, entusiasmo e urgência. Não basta reconhecer a supremacia das Escrituras; é preciso estar comprometido com a primazia da pregação. Sonegar a palavra é privar as pessoas de conhecer a graça de Deus. Reter a mensagem da salvação é uma atitude cruel com os perdidos, uma vez que a fé vem pelo ouvir a palavra. Deus chama os seus escolhidos por meio da palavra. A palavra de Deus é poderosa. Tem vida em si mesma. É a divina semente, que semeada em boa terra produz a trinta, a sessenta e a cento por um. Nunca volta para Deus vazia. Sempre cumpre o propósito para o qual foi designada. Cabe à igreja levantar-se, no poder do Espírito Santo, e pregar a tempo e a fora de tempo essa palavra da vida. Cabe à igreja instar com os pecadores para que se voltem para Deus em arrependimento e fé. É responsabilidade da igreja corrigir, repreender e exortar a todos, com toda a longanimidade e doutrina, pois multiplicam-se os falsos mestres, movidos por sórdida ganância, atraindo para si aqueles que sentem coceira nos ouvidos, entregando-se a fábulas, em vez de ouvir a mensagem da graça. Que Deus traga sobre nós um poderoso reavivamento espiritual, colocando a igreja de volta nos trilhos da verdade, a fim de que ela entenda a supremacia das Escrituras e se comprometa com a primazia da pregação.

Fonte: Boletim nº 188 (recebido por e-mail)

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

TRISTE SURPRESA...


Pr. Wagner Antonio de Araújo
  
Carlos era o típico crente "meia boca" (regular): ia à igreja, cantava, às vezes orava em público, entregava algum dízimo. Levava uma vida despreocupada, cônscio de que não era isso que o Senhor queria dele.

Sua quarta-feira à noite era ocupada pela faculdade. Mas nas férias ele não priorizava ir à igreja. "Tenho direito ao descanso", falava. Sua mãe dizia: "Filho, você precisa colocar o Reino de Deus em primeiro lugar!" Não adiantavam os conselhos da mãe. A Bíblia ele usava bastante, mas na igreja. Sabia achar as referências e acompanhava o sermão. Mas que não se esperasse dele um tempo de leitura bíblica em particular. Ele não tinha tempo. Trabalhava, estudava, namorava, estava muito cansado.

Um dia surgiu-lhe uma pequena dor no lado direito da garganta. Ele pensava que era algum nervo, algum tendão, algum mal jeito. A dor persistia e ele incomodou-se com aquilo. Tomava analgésicos e minimizava o desconforto. Mas assim que o efeito passava a dor voltava. Não deu pra fugir: teve que ir ao médico. Este, examinando-o externa e internamente, ficou temeroso. Escreveu algumas coisas no papel, pesquisou no computador e criou um clima de expectativa. "É sério, doutor?" "Carlos, lamento dizer mas terá que fazer uma biópsia. Eu não estou gostando do que vi".

Carlos desesperou-se. Tão jovem, nem 30 anos de vida e já com câncer? E a biópsia? Deve ser horrível e dolorosa! Falou com os pais, que ficaram muito preocupados. Marcou o exame e foi fazê-lo. Estava desesperado. Deram-lhe anestesia local e, assim que voltou a si, foi dispensado, devendo aguardar o resultado para a semana próxima.

"Meu Deus", orou Carlos, "tenha misericórdia de mim!". Ele orou com vigor e com desespero.

Na semana seguinte passou no laboratório, pegou o exame e levou ao médico. Este, ao abrir, fez cara de desolação. Carlos arrepiou-se. "É grave, doutor?" "Sim, Carlos. Você está com câncer. Vamos torcer para não ter metástase. Tire uma semana de férias e venha na próxima semana para iniciar exames e quimioterapia.".

O mundo caíra para Carlos. O que fazer agora? Para ele isso só acontecia para as outras pessoas, não na sua própria vida. De repente tudo muda e agora ele está em prantos. Tantos planos, tantos sonhos, tanta energia, tudo em vão!

Carlos pensou: "Hoje é terça-feira e tem reunião das senhoras. Eu irei. Vou pedir para que orem por mim". E foi mesmo. Sua mãe estava lá e estranhou o filho. Ele nunca fora num dia de semana. Mas participou e pediu em lágrimas as orações. No dia seguinte ele pensou: "hoje tem culto de oração; não posso perder. Vou buscar ao Senhor!" Ao chegar à igreja o pastor alegrou-se, mas logo tornou-se apreensivo, pois o caso de Carlos parecia muiito grave. Oraram por ele. No fim do culto Carlos foi para casa, trancou-se no quarto e decidiu ler a sua bíblia. Leu com vontade, com força, com vigor. Leu João inteirinho. Saboreou cada versículo. Havia momentos em que esquecia a enfermidade; de repente, como se a dor lhe sussurrasse, ele se lembrava do câncer e o suor gelado lhe invadia. Ele se ajoelhava e clamava, pedindo por misericórdia.

Na quinta-feira, depois do trabalho, soube que um grupo de evangelismo estaria reunido num lar. Ele foi também. E após o encontro decidiu novamente ler a sua bíblia. Desta vez leu 4 epístolas de Paulo. Como eram maravilhosas! "Pena que já é tarde demais...", pensava ele.

E assim passou-se a semana. Quando ele se lembrava dos exames e da quimioterapia sentia o mundo cair, sentia a morte bem de perto e pensava: "Por que não busquei a Deus como deveria? Senhor, tenha piedade de mim!"

Na segunda-feira às oito da manhã Carlos já estava na recepção do hospital. Pegou a senha e aguardou a sua vez. Ao ser chamado foi apresentar-se ao médico. Este, ao vê-lo, abraçou-o e perguntou como estava. Carlos disse que estava desesperado. O médico então lhe falou: "Carlos, nem sei como dizer isso a você. Mas tivemos um sério problema no HD do computador do laboratório. Eles inverteram os resultados e confundiram os nomes. O seu resultado não era aquele. O seu está aqui nas minhas mãos. Você não tem câncer; só está com uma irritação fácil de tratar. Gostaria que nos desculpasse..."

Carlos começou a chorar copiosamente. O próprio médico emocionou-se com ele. De tanto chorar ele ajoelhou-se e orou: "Senhor, muito obrigado! Aprendi a lição! Obrigado pela chance de recomeçar do jeito certo! Ajuda a pessoa que está com o câncer registrado na ficha que estava comigo, para que também confie em Ti. Em nome de Jesus, amém!"

Carlos estava feliz! Ligou pros pais, pra namorada e para os amigos. Todos ficaram felizes por ele! Marcaram uma comemoração na pizzaria próxima da igreja. Foram lá e celebraram. Quando chegou em casa, cansado, feliz, olhou para a Bíblia e pensou: "ah, bíblia, agora você pode esperar; tenho muuito tempo para você; a oração também poderá esperar; já não estou em apuros como antes". E foi ao banho. Enquanto tomava banho, o Espírito Santo trouxe-lhe à lembrança de forma dura e bombástica a mão gigante que escrevia na parede, nos dias do profeta Daniel:"tequel: Pesado foste na balança, e foste achado em falta." (Dn 5:27). Em seguida lembrou-se da frase do Senhor ao homem curado no tanque de Betesda: "Depois Jesus encontrou-o no templo, e disse-lhe: Eis que já estás são; não peques mais, para que não te suceda alguma coisa pior." (Jo 5:14). E para terminar o Espírito Santo o fez recordar da ameaçadora realidade: "Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo." (Hb 10:31). Carlos percebeu que o que pensara era idéia de Satanás, visando esfriar-lhe novamente a fé pelo aparente fim das dificuldades. O inimigo queria separar-lhe da comunhão, levando-o a buscar a Deus por puro interesse, buscando apenas bênçãos, uma troca de favores. Se aflito ou com problemas, Deus é o socorro eficaz; mas finda a tempestade, Deus volta para a prateleira de remédios e ao lugar medíocre e esquecido da ingrata alma humana...

Após o banho ficou no seu quarto, de joelhos, buscando a presença de Deus e fez com Ele um propósito: "Senhor, sou um pecador. MAIS PERTO QUERO ESTAR DE TI, INDA QUE SEJA A DOR QUE ME UNA A TI". Dê-me a graça de Te servir com tanto vigor agora quanto te servi quando pensei que estava para morrer. Que eu não precise de apuros para cumprir o meu compromisso de colocar-Te em primeiro lugar de minha vida. Que eu não seja ingrato para com a Tua graça demonstrada em meu favor, primeiro em me salvar, e agora em me curar e tirar o desespero. Que eu Te seja grato. Em nome de Jesus. Amém".

Carlos venceu. Não sem dificultades, pois as tentações foram muitas. Muitas vezes as diversões, os prazeres, as banalidades e frivolidades lhe seduziam momentaneamente. Mas ouvia sempre os alertas do Espírito Santo em forma de lembranças da Palavra, ou de admoestações dos irmãos em Cristo e dos pais amorosos e corria novamentel para uma vida de consagração ao Senhor.

Que o exemplo desse jovem sirva e estímulo a todos os leitores que também andam às raias dos conflitos entre colocar Deus e o Seu Reino em primeiro lugar ou os desejos pessoais do coração.

O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia. (Pv 28:13)

Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel, Carapicuíba, SP

DIREITOS AUTORAIS


Pr. Wagner Antonio de Araújo

José era um jovem muito promissor. Convertera-se a Cristo e vivia o júbilo do primeiro amor. Ele não tinha família cristã e fizera dos irmãos da igreja a sua própria família.

Ávido por compartilhar a Palavra de Deus, digitou no seu facebook um folheto evangelístico que recebera. Mandou para todos os seus contatos. Qual não foi a sua surpresa quando recebeu do facebook o seguinte aviso:

"Seu texto está ferindo as nossas normas. Ele tem direitos autorais. Delete-o ou seremos forçados a fechar a sua conta". José ficou perplexo. "Como DIREITOS AUTORAIS? A mensagem de Cristo não é DE CRISTO? Vou falar com o pastor". E ligou para seu pastor, autor do folheto. Este lhe disse: "Infelizmente o meu texto é propriedade da editora e eu nada posso fazer. Sinto muito".

Carlos não entendia como era possível proibir a distribuição de um folheto feito para ser distribuído. Para ele era um contrassenso. Mas, enfim, seguiu em frente.

Ele ouviu um louvor tão bonito na igreja que decidiu gravar no culto e divulgar no seu youtube. Não tardou e o youtube lhe comunicou:

"Seu vídeo tem conteúdo de terceiros. O proprietário não autoriza a sua divulgação. Sua conta será bloqueada.". Ah, agora era demais. O cântico era um culto, não era material para a venda. O cantor era tão espiritual! Decidiu escrever para o cantor. Este lhe respondeu: "Fale com o meu empresário; pagando uma quantia você poderá divulgar seu videozinho". José ficou perplexo! Decidiu tirar e divulgar um hino do hinário da igreja, só a letra. Logo o BLOGGER enviou-lhe outra mensagem, dizendo que os direitos autorais eram de uma empresa americana e que não poderia usá-la.

Ainda esperançoso em usar sua mídia para evangelizar, gravou o seu pastor pregando e colocou-o no VIMEO. Recebeu um telefonema da secretária da igreja: "José, a empresa que administra o site da igreja não permite imagens do pastor no templo sem a autorização deles, e há uma taxa de 100 reais por vídeos extras. Assim, você quer que nós enviemos a você um boleto?" José ficou perplexo!

Como última tentativa, digitou em seu facebook um texto bíblico. A editora de bíblias escreveu-lhe: "proibido o uso de nossa tradução sem a devida permissão".

Carlos então entendeu. O evangelho é de graça, mas os atravessadores criaram taxas. É a nova geração de publicanos que tomou conta do mundo cristão.

Aleluia! "Não use essa palavra porque faz parte das santas palavras de propriedade exclusiva da nossa denominação".

SENHOR JESUS - "Uso proibido dessa expressão por ser de direito privado; seu uso pode acarretar as penas previstas no código de defesa do consumidor"...

MISERICÓRDIA, SENHOR! "Detectamos o uso de uma expressão restrita aos cultos de consagração e não autorizamos a sua inclusão em seus textos"...

José, enfim, abandonou a igreja e foi viver sozinho, pois até a oração tinha que ter a autorização de alguém...

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É claro, leitor. Isso é uma ficção. Mas não estamos distantes disto. Há algum tempo postei hinos do hinário de minha denominação e fui obrigado a desmontá-lo, pois "não podiam ser divulgados" - Claro, um hinário é feito para NÃO SER CANTADO...

Caminhamos para um tempo em que voltaremos ao velho sistema pessoal: porta a porta, pessoa a pessoa, cartinhas pessoais e telefonemas. E ainda com muito cuidado, pois bem pode ser que os correios e a telefônica estejam com contratos de direitos autorais; assim, se for detectado o nome JESUS ou FÉ eles taxarão o seu uso.

Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel, Carapicuíba, São Paulo, Brasil

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Os Frutos da Obediência


A. W. Tozer

Obedecer no Novo Testamento significa dar atenção sincera à Palavra, submeter-se à sua autoridade e apregoar as suas instruções.

A obediência neste sentido está quase morta na cristandade moderna. Pode ser ensinada de vez em quando de uma forma débil, mas não é suficientemente enfatizada para dar a ela poder sobre a vida dos ouvintes. Pois, para se tornar efetiva, uma doutrina não deve apenas ser recebida e mantida pela Igreja, mas deve ter por trás dela tal pressão de convicção moral que a ênfase cairá como um golpe, acendendo a energia interior.

A Igreja dos nossos dias suavizou a doutrina da obediência, negligenciando-a completamente ou mencionando-a somente apologeticamente e sem urgência. Isso resulta de uma confusão fundamental entre obediência e obras. Para evitar o erro da salvação pelas obras caímos no erro oposto da salvação sem obediência. Em nossa ânsia de nos livrar da doutrina legalista das obras nos libertamos da obediência também.

A Bíblia não sabe nada sobre a salvação à parte da obediência. Paulo declarou que foi enviado para pregar “a obediência da fé entre todas as gentes” (Rm. 1:15). Ele lembrou os cristãos romanos de que tinham sido libertados do pecado porque tinham “obedecido de coraçãoà forma de doutrina a que foram entregues” (Rm 6:17). No Novo Testamento não há nenhuma contradição entre fé e obediência, entre a fé e as obras da lei, entre lei e graça e entre fé e obediência. A Bíblia não reconhece a fé que não leva à obediência, nem reconhece qualquer obediência que não brote da fé. As duas são lados opostos da mesma moeda. Portanto, a fé e a obediência estão para sempre unidas, e cada uma é sem valor quando separada uma da outra. O problema com muito de nós hoje é que estamos tentando crer sem a intenção de obedecer.

A mensagem da Cruz contém dois elementos. 1) Promessas e declarações a serem cridas e, 2) mandamentos a serem obedecidos. Obviamente, a fé é necessária em primeiro lugar e a obediência em segundo. A única coisa que podemos fazer com uma promessa ou a afirmação de um fato é crer nele. É impossível obedecê-lo, pois não está direcionado à vontade, mas à compreensão. É igualmente impossível crer num mandamento por não estar dirigido à nossa compreensão, mas à nossa vontade. A verdade é que podemos ter fé em sua justiça, podemos ter confiança de que ele é um mandamento bom e justo, mas isso não é suficiente. Até que tenhamos obedecido ou tenhamos recusado a obedecer não fizemos nada a respeito dele. Esforçar-se para exercer fé em relação àquilo que está dirigido à nossa obediência é nos enroscar num labirinto de impossibilidades.

A doutrina de Cristo crucificado e a riqueza das verdades que gira em torno dela tem nelas este conteúdo duplo. O apóstolo pode falar “da obediência da fé” sem dizer contradições. E pode dizer: “O Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (RM 1:16), e “Ele veio a ser a causa da eterna salvação para todos os que lhe obedecem” (Hb. 5:9).

Não há nada incompatível entre essas afirmações quando são entendidas à luz da unidade essencial entre a fé e a obediência.

A fraqueza em nossa mensagem hoje é a nossa ênfase exagerada à fé com uma correspondente subênfase à obediência. Isso foi fazendo com que o “crer” fosse se tornando o dobro do “obedecer” na mente de milhões. O resultado é uma multidão de cristãos mentais cujo caráter é malformado e cuja vida é completamente fora de proporção. A imaginação foi erroneamente tomada por fé e a crença foi despojada do seu conteúdo moral, e tornada um pouco mais do que um consentimento da verdade do Evangelho.

Há cristãos que viveram tanto tempo no ar rarefeito da imaginação que parece quase impossível relacioná-los à realidade. A não obediência paralisou suas pernas morais e dissolveu a sua espinha dorsal, e caíram em um amontoado esponjoso de teorias religiosas, crendo em tudo ardentemente, mas não obedecendo nada em absoluto.

Eles ficam profundamente chocados com a própria menção da palavra “obedecer”. Para eles, isso parece heresia e presunção e é o resultado de uma falta do correto entendimento da palavra da verdade. Poderíamos passar por cima disso não tivesse esse ‘credo’ influenciado praticamente cada canto do mundo cristão, capturado as escolas bíblicas, determinando o conteúdo da pregação evangélica e ido mais longe para decidir que tipo de cristão seremos. Sem dúvida a concepção popular errônea da função da fé e o fracasso dos nossos professores em insistirem na obediência enfraqueceram a Igreja e retardaram o reavivamento nos últimos cinquenta anos.

A única cura é a remoção da causa. Isto requererá um pouco de coragem, mas dignificará a labuta.
Estamos sempre em perigo de nos tornar vítimas das palavras. Uma frase religiosa pode facilmente tomar o lugar da realidade espiritual. Um exemplo é a expressão “Seguir o Senhor”, tão frequentemente usada entre os cristãos. Negligenciamos o fato que isso não pode ser tomado literalmente. Não podemos hoje, como puderam aqueles primeiros discípulos, seguir o Mestre em uma dada área geográfica. Temos a tendência de pensar nisso literalmente, mas ao mesmo tempo de sentir que é uma impossibilidade literal, como resultado isso acaba por significar pouco mais do que um acenar com a cabeça concordando com as verdades da cristandade.

Pode nos assustar aprender que “seguir” é uma palavra no Novo Testamento usada para abrigar a ideia de um hábito determinado de obediência aos mandamentos de Cristo. Veja os frutos da obediência como descritos no Novo Testamento. A casa do homem obediente é construída sobre uma rocha (Mt. 7:24). Ele será amado pelo Pai e terá a manifestação do Pai e do Filho, que virão a ele e farão dele a Sua casa (Jo 14:21-23). Ele viverá no amor de Cristo (Jo 15:10). Pela obediência às doutrinas de Cristo ele é liberto do pecado e feito servo da justiça (Rm 6:17-18). O Espírito Santo é dado a ele (At 5:32). Ele é liberto do autoengano e abençoado em seus feitos (Tg 1:22-25). A sua fé é aperfeiçoada (Tg 2:22). Ele é confirmado em sua segurança em relação a Deus e lhe é dada confiança na oração, para que o que peça lhe seja dado (1 Jo 3:18-22). Estes são apenas alguns dentre muitos versos que podem ser citados no Novo Testamento. Mas mais objetivamente do que qualquer quantidade de textos comprobatórios é o fato de que o ensino do Novo Testamento é somente nessa direção. Um ou dois textos poderiam ser mal entendidos, mas não há erro em todo o ensino da Escritura.

O que tudo isso acrescenta? Quais são as suas implicações práticas para nós hoje? Exatamente porque o poder de Deus está à nossa disposição esperando por nós para colocá-lo em ação pelo cumprimento das condições que são claramente estabelecidas. Deus está pronto para enviar inundações de bênçãos sobre nós quando começamos a obedecer às suas claras instruções.

Não precisamos de nenhuma nova doutrina, nenhum novo movimento, nenhum evangelista importado ou curso caro para nos mostrar o caminho. Ele está claro diante de nós.

A qualquer inquiridor eu diria: “apenas faça a próxima coisa que você sabe que deve fazer para levar a cabo a vontade do Senhor. Se há pecado em sua vida, deixe-o imediatamente. Ponha de lado a mentira, a fofoca e a desonestidade ou qualquer que seja o seu pecado. Renuncie os prazeres mundanos, a extravagância nos gastos, a vaidade no vestir, na sua casa. Acerte-se com qualquer pessoa que possa ter ofendido. Desculpe a todo aquele que pode tê-lo ofendido. Comece a usar o seu dinheiro para ajudar os pobres e promover a causa de Cristo. Tome a Cruz e viva sacrificialmente. Ore, participe das reuniões em torno do Senhor. Testemunhe de Cristo, não só quando é conveniente, mas quando souber que deveria. Não olhe para o custo e não tema as consequências. Estude a Bíblia para aprender a vontade de Deus e então faça a Sua vontade como a entende. Comece agora fazendo a próxima coisa, e então continue dali.”


Do livro: Paths to Power (Caminhando para o Poder).

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A graça de Deus nos capacita a enfrentar o sofrimento



Rev. Hernandes Dias Lopes

A vida é a professora mais implacável: primeiro dá a prova, e depois a lição. C. S. Lewis disse que "Deus sussurra em nossos prazeres e grita em nossas dores". Paulo fala sobre um sofrimento que muito o atormentou: o espinho na carne. Depois de ser arrebatado ao terceiro céu, suportou severa provação na terra. Há um grande contraste entre estas duas experiências de Paulo. Ele foi do paraíso à dor, da glória ao sofrimento. Ele experimentou a bênção de Deus no céu e bofetada de Satanás na terra. Paulo tinha ido ao céu, mas agora, aprendeu que o céu pode vir até ele.

Charles Stanley em seu livro Como lidar com o sofrimento, sugere-nos algumas preciosas lições.

Em primeiro lugar, há um propósito divino em cada sofrimento (2Co 12.7). Há um propósito divino no sofrimento. O nosso sofrimento e a nossa consolação são instrumentos usados por Deus para abençoar outras vidas. Na escola da vida Deus está nos preparando para sermos consoladores. Jó morreu sem jamais saber porque sofreu. Paulo rogou ao Senhor três vezes, antes de receber a resposta. O que Paulo aprendeu e que nós também precisamos aprender é que quando Deus não remove "o espinho", é porque tem uma razão. Deus não permite que soframos só por sofrer. Sempre há um propósito. O propósito é não nos ensoberbecermos.

Em segundo lugar, é possível que Deus resolva revelar-nos o propósito de nosso sofrimento (2Co 12.7). No caso de Paulo, Deus decidiu revelar-lhe a razão de ser do "espinho": evitar que ficasse orgulhoso. Quando Paulo orou nem perguntou por que estava sofrendo, apenas pediu a remoção do sofrimento. Não é raro Deus revelar as razões do sofrimento. Ele revelou a Moisés a razão porque não lhe seria permitido entrar na Terra Prometida. Disse a Josué porque ele e seu exército haviam sido derrotados em Ai. O nosso sofrimento tem por finalidade nos humilhar, nos aperfeiçoar, nos burilar e nos usar.

Em terceiro lugar, o sofrimento pode ser um dom de Deus (2Co 12.7). Temos a tendência de pensar que o sofrimento é algo que Deus faz contra nós e não por nós. Jacó disse: "Tendes-me privado de filhos; José já não existe, Simeão não está aqui, e ides levar a Benjamim! Todas estas cousas em sobrevêm" (Gn 42.36). A providência carrancuda que Jacó pensou estar laborando contra ele, estava trabalhando em seu favor. O espinho de Paulo era uma dádiva, porque através desse incômodo, Deus o protegeu daquilo que ele mais temia – ser desqualificado espiritualmente.

Em quarto lugar, Deus nos conforta em nossas adversidades (2Co 12.9). A resposta que Deus deu a Paulo não era a que ele esperava nem a que ele queria, mas era a que ele precisava. Deus respondeu a Paulo que ele não estava sozinho. Deus estava no controle de sua vida e operava nele com eficácia. Precisamos compreender que Deus está conosco e no controle da situação. Precisamos saber que Deus é soberano, bom e fiel. Jó entendeu isso: "Eu sei que tudo podes e ninguém pode frustrar os teus desígnios".

Em quinto lugar, pode ser que Deus decida que é melhor não remover o sofrimento (2Co 12.9). De todos, esse é o princípio mais difícil. Quantas vezes nós já pensamos e falamos: "Senhor por que estou sofrendo? Por que desse jeito? Por que até agora? Por que o Senhor ainda agiu?". Joni Eareckson ficou tetraplégica e numa cadeira de rodas dá testemunho de Jesus. Fanny Crosby ficou cega com 42 dias e morreu aos 92 anos sem jamais perder a doçura. Escreveu mais de 4 mil hinos. Dietrich Bonhoeffer foi enforcado no dia 9 de abril de 1945 numa prisão nazista. Se Deus não remover o sofrimento, ele nos assistirá em nossa fraqueza, nos consolará com sua graça e nos assistirá com seu poder. A graça de Deus nos capacita a lidar com o sofrimento, sem perdermos a alegria nem a doçura (2Co 12.10).


Fonte: Boletim nº 186 (recebido por e-mail)

domingo, 25 de agosto de 2013

O compromisso com o testemunho do evangelho


Rev. Hernandes Dias Lopes

O apóstolo Paulo menciona três disposições inabaláveis do seu coração em relação ao evangelho: "Eu estou pronto" (Rm 1.14); "eu sou devedor" (Rm 1.15) e "eu não me envergonho" (Rm 1.16). Temos aqui três verdades: A obrigação do evangelho: "sou devedor"; a dedicação ao evangelho: "estou pronto"; e a inspiração do evangelho: "não me envergonho". Vamos examinar esses três compromissos com o evangelho.
 
Em primeiro lugar, eu estou pronto a pregar o Evangelho (Rm 1.14). A demora de Paulo em ir a Roma não era falta de desejo do apóstolo, mas impedimentos circunstanciais alheios à sua vontade. Esse atraso, na verdade, enquadra-se no sábio arbítrio de Deus, pois resultou na escrita desta epístola, que tem merecido o encômio de ser "o principal livro do Novo Testamento e o evangelho perfeito". Paulo sempre esteve pronto a pregar. Ele pregava em prisão e em liberdade; nas sinagogas e nas cortes; nos lares e nas praças. Pregava em pobreza ou com fartura. Ele chegou a dizer: "ai de mim, se não pregar o evangelho" (1Co 9.16). Pregar o evangelho era a razão da sua vida.

Em segundo lugar, eu sou devedor do Evangelho (1.15). Há duas maneiras de alguém se endividar. A primeira é emprestando dinheiro de alguém; a segunda é quando alguém nos dá dinheiro para uma terceira pessoa. É no segundo caso que Paulo se refere aqui. Deus havia confiado o evangelho a Paulo como um tesouro que ele tinha que entregar em Roma e no mundo inteiro. Ele não podia reter esse tesouro. Ele precisava entregá-lo com fidelidade. Deus nos confiou sua Palavra. Ele nos entregou um tesouro. Precisamos ir e anunciar. Sonegar o evangelho é como um crime de apropriação indébita. O evangelho não é para ser retido, mas para ser proclamado. Ninguém pode reivindicar o monopólio do evangelho. A boa nova de Deus é para ser repartida. É nossa obrigação fazê-la conhecida de outros. Proclamar este evangelho em todo o mundo e a toda criatura não é questão de sentimento ou preferência; é uma obrigação moral; é um dever sagrado.

Em terceiro lugar, eu não me envergonho do Evangelho (1.16). Paulo se gloria no evangelho e considera alta honra proclamá-lo. Ao considerarmos, porém, todos os fatores que circundavam o apóstolo, nós poderíamos perguntar: Por que Paulo seria tentado a envergonhar-se do evangelho ao planejar sua viagem para Roma? Porque o evangelho era identificado com um carpinteiro judeu que fora crucificado. Porque naquela época como ainda hoje os sábios do mundo nutriam desprezo pelo evangelho.

Porque o evangelho, centralizado na cruz de Cristo, era visto com desdém tanto pelos judeus como pelos gentios. Porque pelo evangelho Paulo já havia enfrentado muitas dificuldades. Porém, a despeito dessas e outras razões, Paulo pode afirmar, com entusiasmo: "Porque não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê" (Rm 1.16).

Hoje há três grupos bem distintos: Primeiro, aqueles que se envergonham do evangelho. Segundo, aqueles que são a vergonha do evangelho. Terceiro, aqueles que não se envergonham do evangelho. Em quais desses grupos você se enquadra? Qual tem sido o seu compromisso com a proclamação do evangelho? Que Deus desperte sua igreja, para que como um exército poderoso, cheio do Espírito Santo, se levante para proclamar com fidelidade o evangelho da graça. Pregar outro evangelho ou sonegar o evangelho é um grave pecado; porém, anunciar o evangelho, é o maior de todos os privilégios!

Fonte: Boletim nº 185 (recebido por e-mail)

segunda-feira, 29 de abril de 2013

A noite escura da alma



Rev. Hernandes Dias Lopes

Há momentos em que a noite trevosa desce sobre a nossa vida e os horrores do inferno bafejam nossa alma. Sentimos uma opressão do inimigo, com seu hálito pesado vindo sobre nós. Nossa carne treme, nossos ossos são abalados e nossos olhos se enchem de lágrimas. Não escapamos desses ataques. Não vivemos blindados. Estamos expostos ao sofrimento. Na verdade nos importa entrar no reino de Deus por meio de muitas tribulações (At 14.22). O próprio Jesus saiu do cântico no Cenáculo para o pranto no Getsêmani. O autor da vida suou sangue no Getsêmani (Lc 22.44) e derramou sua alma na morte na cruz (Is 53.12). Ele começou a entristecer-se e a angustiar-se. Disse a seus discípulos: "A minha alma está profundamente triste até à morte" (Mc 14.34). 

Nenhum homem tinha experimentado tristeza tão profunda e ninguém jamais a enfrentaria no futuro. Num sentido único, Jesus foi "um varão de dores". Aquela fatídica noite no Getsêmani era a noite escura da alma, quando Jesus travou a mais renhida batalha da humanidade. Naquele momento, ele ficou só, dobrado sobre seus joelhos, com o rosto em terra, com forte clamor e lágrimas (Hb 5.7). Ali, submeteu-se à vontade do Pai, foi consolado pelo anjo e saiu vitorioso para caminhar para a cruz, como um rei caminha para a coroação. Na cruz, o Filho de Deus foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades. Agradou ao Pai moê-lo. Ali, suspenso entre a terra e o céu, sorveu cada gota do amargo cálice da ira de Deus. Na cruz, carregou sobre seu corpo todos os nossos pecados e suportou o juízo de Deus que deveria cair sobre nossa cabeça. Na cruz ele satisfez todas as demandas da justiça divina ao fazer-se pecado e maldição por nós. 

Na cruz, porém, Jesus adquiriu para nós eterna redenção. A noite escura da alma não foi um acidente na vida de Jesus, mas uma agenda traçada na eternidade. Essa noite desceu sobre sua alma, para que a luz bendita do céu invadisse a nossa vida. Ele bebeu o cálice amargo da ira de Deus, para nos oferecer a água da vida. Ele suou sangue e chorou para que nós pudéssemos experimentar uma alegria indizível e cheia de glória. Ele morreu para nos oferecer a vida eterna.
Saiba que, se a noite escura da alma chegou em sua vida, Deus é poderoso para transformar essas trevas em luz e o seu sofrimento em prelúdio de glória. O apóstolo Paulo, homem que enfrentou apedrejamento, açoites, prisões e naufrágios, afirma com entusiasmo, que os sofrimentos do tempo presente não são para comparar com as glórias porvir a serem reveladas em nós. Disse ainda que a nossa leve e momentânea tribulação produz, para nós, eterno peso de glória, acima de toda comparação.

O sofrimento aqui é inevitável. Ainda não chegamos ao paraíso. Aqui não é o céu. Porém, o sofrimento não hasteará sua bandeira em nosso lar eterno. Lá Deus enxugará dos nossos olhos toda a lágrima. Lá a dor não mais açoitará nosso corpo. Lá desfrutaremos da bem-aventurança eterna. Aqui cruzamos vales escuros, marcharmos por desertos tórridos e atravessamos pântanos perigosos. Mas, lá receberemos um consolo eterno, uma alegria sem fim, uma glória que jamais se contou ao mortal.

Não se desespere diante dos dramas da vida. Não perca a esperança diante das circunstâncias adversas. Não duvide do amor de Deus por causa da dor que assola seu peito. Deus nunca vai desamparar você. Ele está do seu lado como seu refúgio e fortaleza. Você vai caminhar para a pátria celeste de força em força, de fé em fé, sendo transformado de glória em glória. Deus segurará firme a sua mão até receber você na glória. Então, a noite escura da alma desembocará na manhã gloriosa de uma eternidade de gozo e paz!

Fonte: Boletim nº 178 (recebido por e-mail)

domingo, 24 de março de 2013

A contribuição cristã é a graça a nós concedida


Rev. Hernandes Dias Lopes

A contribuição cristã é bíblica. Não precisamos ter constrangimento em tratar do assunto. Infelizmente, muitos líderes religiosos, movidos pela ganância e regidos por uma falsa teologia, exploram o povo em nome de Deus, usando mecanismos nada ortodoxos, para vender seus produtos, criados na fábrica do misticismo, para auferirem lucro em nome da fé. Esses desvios da sã doutrina e da ética cristã, que trazem enriquecimento para uns e vergonha para todos, têm levado muitos crentes a serem refratários com respeito à mordomia dos bens. O extremo de uns, entretanto, não pode nos levar para outro polo. Devemos cingir nossa fé e nossa conduta apenas pela Palavra de Deus.

Com respeito à contribuição cristã, precisamos observar duas coisas:

Em primeiro lugar, os dízimos. A entrega fiel de dez por cento de tudo quanto ganhamos para o sustento da obra de Deus é um ensino presente tanto no Antigo como no Novo Testamento. Não temos o direito de subestimar os dízimos nem de subtraí-los. Não compete a nós administrá-los. Devemos entregá-los com integralidade, alegria e gratidão para a manutenção da Casa e Deus e a expansão do seu reino.

Em segundo lugar, as ofertas. O apóstolo Paulo, na segunda epístola aos coríntios, trata dessa matéria de forma esplêndida. Ali nos oferece alguns princípios que vamos, aqui, destacar:

Primeiro, a oferta é graça mais do que obrigação (2Co 8.1). Graça é um favor imerecido. É Deus quem nos dá o privilégio de assistirmos os santos, socorrermos os necessitados e sermos seus cooperadores no avanço de sua obra.

Segundo, a oferta não é resultado da abundância do que temos no bolso, mas da generosidade do nosso coração (2Co 8.2). As igrejas da Macedônia, mesmo passando por muita prova de tribulação, manifestaram abundância de alegria, e mesmo suportando profunda pobreza, superabundaram em grande riqueza de generosidade, ao contribuírem para os pobres da Judeia. A contribuição cristã é um privilégio e não um peso. Deve ser feita com alegria e não com pesar.

Terceiro, a oferta deve ser voluntária e proporcional (2Co 8.3,4). Contribuir por coação ou constrangimento não tem valor aos olhos de Deus. A contribuição deve ser espontânea, e também, proporcional. Os crentes da Macedônia ofertaram na medida de suas posses e mesmo acima delas. A contribuição não é para trazer sobrecarga para uns e alívio para outros, mas para que haja igualdade. Para usar uma linguagem bíblica, "o que muito colheu não teve demais; e o que pouco, não teve falta".

Quarto, a oferta é uma dádiva da vida, mais do que de valores financeiros (2Co 8.5). É fácil entregar uma oferta financeira a uma pessoa necessitada, sem entregar com ela o coração. Os macedônios deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor, depois fizeram a oferta aos pobres da Judeia. Antes de trazer nossa oferta, precisamos trazer nossa vida. Primeiro Deus aceita o ofertante, depois recebe a oferta.

Quinto, a oferta é uma semeadura recompensada por Deus com farturosa colheita (2Co 9.6). Quando ofertamos para atender à necessidade dos santos, estamos fazendo uma semeadura. Quem semeia pouco, colhe pouco; quem semeia com fartura, com abundância ceifará. O bem que fazemos aos outros vem sobre nós mesmos e isso da parte do Senhor. Quem dá ao pobre, a Deus empresta. A alma generosa prosperará. A semente que se multiplica não é a que comemos, mas a que semeamos. É Deus quem nos dá semente para semear. É Deus quem supre e aumenta a nossa sementeira. É Deus quem multiplica os frutos da nossa justiça. É Deus quem nos enriquece em tudo, para agirmos com toda generosidade, a fim de que sejam tributadas a ele, as ações de graças. 
Quando socorremos os santos, isso não apenas supre as necessidades deles, mas também, redunda em ações de graças a Deus. Que Deus nos mova à generosidade e nos faça mordomos fiéis na administração dos bens a nós confiados!

Fonte: Boletim nº 175 (recebido por e-mail)

sábado, 9 de março de 2013

O PASTORZINHO E SEU DUELO


Pr. Wagner Antonio Araújo

Obrigado, Senhor, por me chamar para o ministério.

Como? Não entendi. Pode repetir? "Buraco Quente"? Senhor, aquilo é uma favela!

Sim, eu sei, tem gente lá, mas, Senhor, eu pensei que o Senhor quisesse me aproveitar num lugar melhor; aliás, eu tenho dois convites aqui, igrejas ótimas, são Suas também!

Não? Não me quer lá. Poxa, Senhor, tudo bem. E onde é essa igreja? Naquela rua? Aquela ali, sem asfalto? Ah, Senhor, por favor, manera comigo! Eu comprei um carro novo agora! Pelo menos um lugarzinho com asfalto!

Não? É ali mesmo? Tá bom. E o que o Senhor quer que eu faça? Pregue? Administre? Visite? Ensine? Pode escolher.

O que? Está brincando, não é, Senhor? Não? O Senhor quer que eu faça de tudo um pouco? Mas Mestre, é muito pra mim! Eu me especializei em pedagogia religiosa, sou craque nisso, o resto eu só sei o básico! Como? Mesmo assim? Ai, ai, ai, tá certo, Senhor.

Mas, Mestre, e o salário? Penso que o Senhor não vai querer que eu passe necessidades, não é? Já tenho aqui o meu orçamento direitinho. Preparei-o baseado no salário da pastorada da cidade. Tirei a média. Com isso acho que dá pra me manter. Quanto pagarão, Senhor?

COMO? Só isso? Mas como eu vou viver, Deus? Assim já é demais! Como? "Pela fé?" Ah, Senhor, isso funcionava com Hudson Taylor, Jorge Muller, mas não comigo, que sou inteirado em economia. Não dá, Senhor! Por essa miséria eu não trabalho.

Como? Vou trabalhar sim? Mas Deus, e como vou me manter? O Senhor? O Senhor suprirá? Como? Ah, pelos "corvos", como Elias. Tá certo, Deus, a estória é bonitinha, mas hoje em dia só tem pardais e pombas. Vai mudar? Como, trazendo corvos? Ah, não? Vai trazer carne e pão por pombas e pardais? Meu Deus, ...

E por quanto tempo ficarei ali, Senhor? Será só um estagiozinho, não? Não? O Senhor tem planos longos aqui pra mim? Ah, Senhor, misericórdia! Ah, quer que eu fique bastante tempo, não? Quanto tempo? COMO? A vida toda? Ah, eu não aguentarei, meu Deus... Tenha piedade!

Senhor, por que esse plano pra mim? Os meus colegas estão nas primeiras igrejas, outros foram pra missões e aparecem nos jornais, eu também tenho direito, também sou Seu filho! Plano melhor? Como isso pode ser um plano melhor? Eu sou qualificado, Senhor! Sim, sei que foi o Senhor quem permitiu, mas pra que tanta qualificação senão tiver utilidade? Ah, terei? Ali, naquele lugarejo? Tá bom.

Está certo, Senhor. Não estou nada contente. Não Lhe entendo, Deus. Mas tudo bem. Não vou discutir.

(ele então pensa:)
 “... E eu que queria ser famoso, ser rico, ter meu nome na placa da igreja, um programa de TV e um montão de pastores trabalhando pra mim. Agora serei pastor nessa favela sem asfalto, escondido, trabalhando com púlpito, visita, ensino, administração... Se eu soubesse que era assim... "

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O jovem pastorzinho terminou de reclamar e resolveu orar. E enquanto orava cheio de ressentimento e tristeza ouviu um barulho. Era seu hinário que havia caído no chão. Tomou-o e, antes de fechá-lo, viu o hino 298 CC com uma marca feita pelo seu primeiro pastor: "filho, um dia você precisará desse hino; use-o!". Então ele leu:

Nem sempre será pra o lugar que eu quiser,
que o Mestre me tem de mandar;
é tão grande a seara já a embranquecer,
a qual eu terei de ceifar.
Se, pois, a caminho que nunca segui,
a voz a chamar-me eu ouvir,
direi: "Meu Senhor, dirigido por ti, irei tua ordem cumprir.”

Eu quero fazer o que queres, Senhor; serei sustentado por ti.
E quero dizer o que queres, Senhor, que o servo teu deva dizer.

Eu sei que há palavras de amor e perdão,
que aos outros eu posso levar;
porque nas estradas dos vícios estão,
perdidos que devo ir buscar.
Senhor, se com tua presença real,
tu fores pra fortalecer,
darei a mensagem de servo leal,
farei, meu Senhor, meu dever.

Eu quero encontrar um obscuro lugar,
na seara do meu bom Senhor;
enquanto for vivo, sim, vou trabalhar,
em prova do meu grato amor.
De ti meu sustento só dependerá,
tu, pois, hás de me proteger;
a tua vontade, sim, minha será;
e eu, pronto o que queres a ser.

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E então disse em oração ao Senhor:

"Deus, perdoe a minha arrogância. Quem sou eu para escolher a lavoura? Quem sou eu para ditar as normas? A Igreja é Sua, a minha vida pertence ao Senhor. Toma-me, usa-me o quanto quiser, quando quiser e onde quiser!

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E foi assim que esse pastor começou o seu trabalho. Ele continua naquela igreja. O local ainda não tem asfalto. O seu carro novo ficou esfolado e já foi trocado. Mas muitas vidas que residem naquele bairro não são mais as mesmas. Jesus as salvou. E o Reino de Deus ali chegou. Se esse jovem pastor não fosse para lá a Obra do Senhor estaria incompleta. Ele aprendeu a humildade, aprendeu que servir a Deus não é algo para ganhar fama, dinheiro ou poder, mas para doar vida, mensagem, amor, tempo e dedicação. Hoje ele e a igreja são muito felizes. E espero que assim continuem.

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A todos os meus colegas "sem nome", desconhecidos, cujos ministérios têm sido a causa da salvação de inúmeras pessoas nos lugares aonde muitos "grandes" não vão pessoalmente, ofereço este texto.

Do conservo e também pequeno com eles,

Wagner Antonio de Araújo