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terça-feira, 24 de setembro de 2013

Os Frutos da Obediência


A. W. Tozer

Obedecer no Novo Testamento significa dar atenção sincera à Palavra, submeter-se à sua autoridade e apregoar as suas instruções.

A obediência neste sentido está quase morta na cristandade moderna. Pode ser ensinada de vez em quando de uma forma débil, mas não é suficientemente enfatizada para dar a ela poder sobre a vida dos ouvintes. Pois, para se tornar efetiva, uma doutrina não deve apenas ser recebida e mantida pela Igreja, mas deve ter por trás dela tal pressão de convicção moral que a ênfase cairá como um golpe, acendendo a energia interior.

A Igreja dos nossos dias suavizou a doutrina da obediência, negligenciando-a completamente ou mencionando-a somente apologeticamente e sem urgência. Isso resulta de uma confusão fundamental entre obediência e obras. Para evitar o erro da salvação pelas obras caímos no erro oposto da salvação sem obediência. Em nossa ânsia de nos livrar da doutrina legalista das obras nos libertamos da obediência também.

A Bíblia não sabe nada sobre a salvação à parte da obediência. Paulo declarou que foi enviado para pregar “a obediência da fé entre todas as gentes” (Rm. 1:15). Ele lembrou os cristãos romanos de que tinham sido libertados do pecado porque tinham “obedecido de coraçãoà forma de doutrina a que foram entregues” (Rm 6:17). No Novo Testamento não há nenhuma contradição entre fé e obediência, entre a fé e as obras da lei, entre lei e graça e entre fé e obediência. A Bíblia não reconhece a fé que não leva à obediência, nem reconhece qualquer obediência que não brote da fé. As duas são lados opostos da mesma moeda. Portanto, a fé e a obediência estão para sempre unidas, e cada uma é sem valor quando separada uma da outra. O problema com muito de nós hoje é que estamos tentando crer sem a intenção de obedecer.

A mensagem da Cruz contém dois elementos. 1) Promessas e declarações a serem cridas e, 2) mandamentos a serem obedecidos. Obviamente, a fé é necessária em primeiro lugar e a obediência em segundo. A única coisa que podemos fazer com uma promessa ou a afirmação de um fato é crer nele. É impossível obedecê-lo, pois não está direcionado à vontade, mas à compreensão. É igualmente impossível crer num mandamento por não estar dirigido à nossa compreensão, mas à nossa vontade. A verdade é que podemos ter fé em sua justiça, podemos ter confiança de que ele é um mandamento bom e justo, mas isso não é suficiente. Até que tenhamos obedecido ou tenhamos recusado a obedecer não fizemos nada a respeito dele. Esforçar-se para exercer fé em relação àquilo que está dirigido à nossa obediência é nos enroscar num labirinto de impossibilidades.

A doutrina de Cristo crucificado e a riqueza das verdades que gira em torno dela tem nelas este conteúdo duplo. O apóstolo pode falar “da obediência da fé” sem dizer contradições. E pode dizer: “O Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (RM 1:16), e “Ele veio a ser a causa da eterna salvação para todos os que lhe obedecem” (Hb. 5:9).

Não há nada incompatível entre essas afirmações quando são entendidas à luz da unidade essencial entre a fé e a obediência.

A fraqueza em nossa mensagem hoje é a nossa ênfase exagerada à fé com uma correspondente subênfase à obediência. Isso foi fazendo com que o “crer” fosse se tornando o dobro do “obedecer” na mente de milhões. O resultado é uma multidão de cristãos mentais cujo caráter é malformado e cuja vida é completamente fora de proporção. A imaginação foi erroneamente tomada por fé e a crença foi despojada do seu conteúdo moral, e tornada um pouco mais do que um consentimento da verdade do Evangelho.

Há cristãos que viveram tanto tempo no ar rarefeito da imaginação que parece quase impossível relacioná-los à realidade. A não obediência paralisou suas pernas morais e dissolveu a sua espinha dorsal, e caíram em um amontoado esponjoso de teorias religiosas, crendo em tudo ardentemente, mas não obedecendo nada em absoluto.

Eles ficam profundamente chocados com a própria menção da palavra “obedecer”. Para eles, isso parece heresia e presunção e é o resultado de uma falta do correto entendimento da palavra da verdade. Poderíamos passar por cima disso não tivesse esse ‘credo’ influenciado praticamente cada canto do mundo cristão, capturado as escolas bíblicas, determinando o conteúdo da pregação evangélica e ido mais longe para decidir que tipo de cristão seremos. Sem dúvida a concepção popular errônea da função da fé e o fracasso dos nossos professores em insistirem na obediência enfraqueceram a Igreja e retardaram o reavivamento nos últimos cinquenta anos.

A única cura é a remoção da causa. Isto requererá um pouco de coragem, mas dignificará a labuta.
Estamos sempre em perigo de nos tornar vítimas das palavras. Uma frase religiosa pode facilmente tomar o lugar da realidade espiritual. Um exemplo é a expressão “Seguir o Senhor”, tão frequentemente usada entre os cristãos. Negligenciamos o fato que isso não pode ser tomado literalmente. Não podemos hoje, como puderam aqueles primeiros discípulos, seguir o Mestre em uma dada área geográfica. Temos a tendência de pensar nisso literalmente, mas ao mesmo tempo de sentir que é uma impossibilidade literal, como resultado isso acaba por significar pouco mais do que um acenar com a cabeça concordando com as verdades da cristandade.

Pode nos assustar aprender que “seguir” é uma palavra no Novo Testamento usada para abrigar a ideia de um hábito determinado de obediência aos mandamentos de Cristo. Veja os frutos da obediência como descritos no Novo Testamento. A casa do homem obediente é construída sobre uma rocha (Mt. 7:24). Ele será amado pelo Pai e terá a manifestação do Pai e do Filho, que virão a ele e farão dele a Sua casa (Jo 14:21-23). Ele viverá no amor de Cristo (Jo 15:10). Pela obediência às doutrinas de Cristo ele é liberto do pecado e feito servo da justiça (Rm 6:17-18). O Espírito Santo é dado a ele (At 5:32). Ele é liberto do autoengano e abençoado em seus feitos (Tg 1:22-25). A sua fé é aperfeiçoada (Tg 2:22). Ele é confirmado em sua segurança em relação a Deus e lhe é dada confiança na oração, para que o que peça lhe seja dado (1 Jo 3:18-22). Estes são apenas alguns dentre muitos versos que podem ser citados no Novo Testamento. Mas mais objetivamente do que qualquer quantidade de textos comprobatórios é o fato de que o ensino do Novo Testamento é somente nessa direção. Um ou dois textos poderiam ser mal entendidos, mas não há erro em todo o ensino da Escritura.

O que tudo isso acrescenta? Quais são as suas implicações práticas para nós hoje? Exatamente porque o poder de Deus está à nossa disposição esperando por nós para colocá-lo em ação pelo cumprimento das condições que são claramente estabelecidas. Deus está pronto para enviar inundações de bênçãos sobre nós quando começamos a obedecer às suas claras instruções.

Não precisamos de nenhuma nova doutrina, nenhum novo movimento, nenhum evangelista importado ou curso caro para nos mostrar o caminho. Ele está claro diante de nós.

A qualquer inquiridor eu diria: “apenas faça a próxima coisa que você sabe que deve fazer para levar a cabo a vontade do Senhor. Se há pecado em sua vida, deixe-o imediatamente. Ponha de lado a mentira, a fofoca e a desonestidade ou qualquer que seja o seu pecado. Renuncie os prazeres mundanos, a extravagância nos gastos, a vaidade no vestir, na sua casa. Acerte-se com qualquer pessoa que possa ter ofendido. Desculpe a todo aquele que pode tê-lo ofendido. Comece a usar o seu dinheiro para ajudar os pobres e promover a causa de Cristo. Tome a Cruz e viva sacrificialmente. Ore, participe das reuniões em torno do Senhor. Testemunhe de Cristo, não só quando é conveniente, mas quando souber que deveria. Não olhe para o custo e não tema as consequências. Estude a Bíblia para aprender a vontade de Deus e então faça a Sua vontade como a entende. Comece agora fazendo a próxima coisa, e então continue dali.”


Do livro: Paths to Power (Caminhando para o Poder).

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